O líder da UNITA, principal partido da oposição em Angola, Isaías Samakuva, alertou hoje em Madrid para o risco de um novo conflito sangrento caso não haja democracia no país.
Samakuva está em Madrid no âmbito de uma viagem a vários países para pedir à comunidade internacional pressão sobre o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, no sentido de se cumprir os acordos de paz que puseram fim à guerra civil e continuar a aprofundar o processo democrático, o que, de acordo com o líder partidário, está a sofrer uma reviravolta.
O presidente da UNITA, citado pela agência EFE, denunciou a falta de liberdade e corrupção no país, e acrescentou que os recursos nacionais, especialmente da indústria de diamantes e petróleo, só beneficiam "um pequeno grupo de dirigentes".
Para Samakuva, a UNITA tem servido de "contenção" e considerou que uma revolta em Angola "faria correr muito sangue" e "desencadearia um conflito de dimensões imprevisíveis".
"É melhor superarmos isto com o diálogo do que entrar novamente em conflito, o que destruiria o progresso que temos alcançado", disse.
Angola é um país rico em recursos naturais e, desde o fim da guerra civil em 2002, tem um forte crescimento económico, que, denunciou o líder da oposição, "não beneficia as pessoas, que não têm água, incluindo Luanda, nem um sistema de saúde que funcione".
Samakuva também denunciou o contínuo atraso do Governo e do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA, no poder e com maioria superior a dois terços no parlamento, após as eleições gerais realizadas a 31 de agosto de 2012) na realização de eleições locais e na execução do primeiro censo desde a independência de Angola de Portugal em 1975.
Por essa razão, Samakuva expressou ceticismo sobre o começo provisório do censo anunciado na quinta-feira em Angola e que devia realizar-se de forma definitiva em 2014.
Sublinhando que o seu país oferece "muitas oportunidades" de investimento, o líder da UNITA lamentou que os investidores estrangeiros estão "totalmente desanimados" quando "veem as condições do país, onde não há transparência e a corrupção é alta".
Durante a sua viagem, com paragens nos EUA, Londres, Bruxelas, Roterdão, Paris, Madrid e Lisboa, o objetivo de Samakuva é expor o que está acontecer no seu país, porque, sustenta, "o Governo monopolizou os meios de comunicação públicos para transmitir uma informação que não corresponde à realidade".
Questionado sobre as relações de Angola com Portugal, Samakuva disse que "alguns setores portugueses estão preocupados com Eduardo dos Santos e a sua filha, que estão a comprar grandes empresas".
E acrescentou que o Presidente angolano e a sua família têm uma participação maioritária em bancos portugueses e estão interessados na televisão pública RTP.
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