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Autoridades almejam praticar agricultura ao longo dos 12 meses do ano, com a técnica de irrigação dos solos | |
(Por Elias Tumba)
Virei é o nome histórico de um município potencialmente pecuário, que "empresta" à província do Namibe um valor acrescentado com as suas misteriosas pinturas rupestres de Tchitundu- Hulu e com um povo enigmático "caçado" por dezenas de turistas: Os Cuvales.
A história da localidade, encontrada a 131 km da sede da província (via Pico de Azevedo) e 162 km (via Caraculu), assenta basicamente na sua força e tradição de manusear o gado em grande escala e reservar, por milhares de anos, elementos históricos e patrimoniais do período pré-banto.
O município é dos mais afectados pela cíclica estiagem, típica desta região "tomada" pelo deserto do Namibe (um dos mais antigos do mundo), pelo que luta, com medidas estruturantes, para manter firme e viva a sua pecuária.
Apesar de ser esta a actividade económica de maior aposta para a subsistência, um novo elemento parece começar a ganhar terreno no Virei e atrair a atenção das autoridades locais e comunidades, maioritariamente do subgrupo étnico Cuvale.
A agricultura de subsistência já é um facto nesta localidade, há algum tempo. Todavia, os níveis de produção e os investimentos estão longe de corresponder à política do executivo, daí criar-se condições para projectar a agricultura de regadio e acelerar, a médio prazo, o cumprimento do programa de combate à fome.
Para tal, foram preparados na localidade de Kavolocamo um total de 33 hectares de terras aráveis, onde se envolve toda a comunidade, como nos conta, entusiasmada, a administradora municipal do Virei, Juliana Fonseca.
A gestora, que tem a missão de executar as políticas emanadas pelo Governo central e provincial, para ajudar a diminuir as dificuldades dos seus compatriotas Cuvales e Kuissis, afirma não ter qualquer dúvida no êxito deste projecto.
Conhecedora da realidade geográfica do município e crente na capacidade de entrega dos seus habitantes, assume ter noção da dificuldade a enfrentar, mas confessa que nada impedirá o desejo de potenciar o Virei e pôr fim, de uma vez, à agricultura de subsistência.
Juliana Fonseca explicou à reportagem da Angop que este novo programa tem, na génese, dois grandes objectivos. O primeiro é atender as famílias seleccionadas para esta primeira fase e ensinar os seus irmãos a melhorar a pecuária e diversificarem a fonte de renda.
“Estamos a introduzir um elemento novo no hábito dos usos e costumes da nossa população. Sendo maioritariamente pecuarista, agora estamos a introduzir também a agricultura, porque temos a sorte de o maior rio da província, o Bero, também atravessar o nosso município”, disse.
Informou que a Administração do Virei, no âmbito do Programa de Combate à Fome e à Pobreza, compra “in puts” agrícolas e instrumentos, como motobomba e mangueira, daí a motivação para ensinar esta prática.
“Estamos a ensina-los que não se sobrevive apenas da agricultura dependendo da chuva, mas também de regadio. Este sonho tornou-se realidade desde Maio último, com o acompanhamento da Direção Provincial da Agricultura, que presta apoio técnico às famílias”, disse.
O programa de lançamento da agricultura no Virei vai de tal forma bem encaminhado, que a administradora afirma, com agrado e convicção, já terem conseguido preparar, com plantações, 36 hectares de terra, para estas famílias.
Como o plano é ambicioso, foram localizados outros 158 hectares, que estão em fase de preparação, antes de serem distribuídos às famílias, no mesmo sistema.
“Pensamos que com esta prática e conjugação dessas medidas estruturantes, virão de certa forma, até porque os efeitos já são notórios. Sendo ela cíclica, devemos atacar a causa e não apenas preocupar-se com o efeito”, recomenda a administradora.
Ainda assim, mostra-se preocupada pelo facto da demanda ser maior que a oferta, neste momento, mesmo depois de vários apoios prestados pelo Executivo, que têm sido insuficientes, por toda a população estar afetada.
(Cereais e hortícolas deixarão de ser exclusivos)
A prática da “agricultura real” está só a começar em Virei. Porém, já estão bem identificados os produtos que, numa primeira fase, darão suporte a este processo.
Atualmente, as comunidades dedicam-se ao cultivo de cereais e hortícolas, mas a área escolhida, por ser adaptável, vai permitir produzir todo o tipo de produtos agrícolas, podendo, assim, diversificar a dieta alimentar de povos, como os Cuvale, habituados à massambala.
“Tudo que é novo pode parecer estranho na comunidade. Mas aprende-se, pois o homem é um ser adaptável. Está a haver muita adesão e satisfação, sobretudo depois da visita do governador provincial, Rui Falção. Desta visita resultou a entrega de um tractor. Vimos que Virei não é só área para pecuária, mas também para a agricultura. Esta é a aposta da Administração Municipal e temos todo apoio da Direção Provincial da Agricultura e do Governo Provincial”, regozija.
(Matadouro Industrial para melhorar a pecuária)
O município de Virei sente em toda a sua extensão o impacto da estiagem e seca, que pode pôr em risco a vida do gado, mas ainda assim jamais a sua população se mostram desencorajada em fazer a pecuária.
O amor entre os habitantes desta região (sobretudo os Cuvales) e o seu gado é de tal forma intenso, que se propõe caminhar quilométricas distâncias, em busca da água sagrada, num território “quase seco” há já três anos.
O gado bovino (espécie mais abundante) é para estes povos a sua maior riqueza, podendo mesmo ser, em algumas situações, defendido com a vida, caso um pastor se depare com algum animal felino na sua busca por alimento para a espécie, no habitual deserto.
Este indicador serve de barômetro para medir o impacto e poder de influência da pecuária para os habitantes de Virei, onde pode faltar de tudo um pouco, mas nunca, nem em sonhos, o sagrado gado.
As medidas em curso para melhorar a pecuária na região têm tido algum impacto sobre a vida do gado e das comunidades. Porém, um projeto em particular merece a eleição da administração local.
Segundo a administradora, é importante e seria recomendável que a província ganhasse, a médio prazo, um matadouro industrial para melhorar o processo de abate de animais e a qualidade da carne.
Por enquanto, a intenção está em sonho. Mas no que depender da administradora, será algo a executar, impreterivelmente, numa localidade em que o gado abunda de forma notória.
“Sendo potencialmente pecuário, que tal ter no Virei um matadouro industrial, no futuro. O município beneficiou em 2011 de um projeto denominado Prudepe, para ajudar os criadores tradicionais a melhorar a sua qualidade de gado, tendo beneficiado, numa primeira, 54 criadores”, explicou.
Este processo, que beneficiou igualmente dez comerciantes, está atualmente em posse do BDA, aguardando pelo financiamento, daí esperarem por uma resposta positiva.
O projeto virá, seguramente, melhorar a qualidade do gado, como sublinha a administradora, para quem a solidariedade do povo Cuvale vai ajudar a beneficiar centenas de famílias, num território pobre em água, mas com uma invejável riqueza natural, saída desde o gado às pinturas rupestres.
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