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Quem nunca viu aquele desenho
da Disney “Mogli”? Na história de Rudyard Kipling, imortalizada no traço
da Disney, um menino é criado por animais selvagens e tem como amigos
macacos e ursos.
Pode parecer incrível, mas a história da humanidade está recheada de
lendas e fábulas sobre crianças sendo criadas por animais. Talvez um dos
maiores expoentes disso na nossa cultura ocidental, seja o clássico
literário de Edgar Rice Borroughs, “Tarzã, o rei dos macacos”.
Em contrapartida, na história das civilizações antigas, a criação por
animais é parte integrante de sua existência. Veja por exemplo o caso
de Rômulo e Remo. Dois gêmeos recém nascidos do século VIII A.C. que
abandonados por um tio, encontram numa loba sua mãe adotiva. Alimentados
pela loba, Rômulo e Remo crescem e posteriormente são encontrados por
um pastor, que os ensina a agir como humanos. Os dois dão origem a uma
civilização que posteriormente dominou o mundo: Roma. Ficção? Talvez.
Muitas vezes, é bem difícil separar o joio do trigo nessas lendas,
mas sabemos que muito do que se pensava ser apenas mitologia tem um
fundo de verdade. O ser humano, quando extirpado de seu local numa
estrutura social organizada, perde quase completamente o comportamento e
adota uma forma de vida eminentemente selvagem, regredindo milhares de
anos de evolução num piscar de olhos.
Geralmente, a tentativa de resgatar essas pessoas e trazê-las de
volta para a sociedade de onde saíram, resulta em retumbantes fracassos e
sofrimento de ambos os lados. Uma vez selvagem, dificilmente o ser
humano consegue se reintegrar à civilização. Este fator, percebido em
inúmeros casos de tentativas de reintegração, expõe duramente uma
verdade: A de que a Humanidade só evolui em conjunto. Pensamos nossa
vida de modo individual e podemos ter a ilusão de que nós nos bastamos,
mas essas histórias mostram o quanto somos dependentes do outro. Isso
nos mostra também, o poder da linguagem, que permeia as sociedades pré e
pós-civilizadas desde um período anterior aos dois milhões de anos
atrás e que segundo muitos estudiosos foi o que nos separou dos animais
selvagens e propiciou uma rápida ascensão evolutiva e também na cadeia
alimentar.
Pensando nisso, acredito que seja interessante agrupar aqui alguns
dos mais interessantes e intrigantes casos de crianças que foram
adotadas e curiadas por feras selvagens, vivendo como animais, alheios
ao mundo e até da percepção de que pertenciam a uma outra espécie.
O menino lobo de Hesse -
Este é um dos casos mais antigos já registrados de crianças humanas
vivendo como feras. O menino logo de Hessie foi precariamente
registrado, o que gerou conflitos e imprecisões históricas. Estima-se
que o menino lobo de Hessie, pode ser a soma de três casos distintos.
Em 1344, (com variações entre 1544 e 1744) caçadores do reino alemão
de Hesse capturaram um menino que tinha entre 7 e 12 anos de idade. O
menino estava completamente fora de si, e agia como um animal. Ele
estivera vivendo com os lobos durante grande parte de sua vida. Monges
Beneditinos que registraram o caso em seus alfarrábios contam que o
menino teria sido roubado da família aos três anos, pelos próprios lobos
que o criaram.
Quando descoberto na floresta, o menino vivia nu, se alimentava de
carne regurgitada pelos lobos e dormia em tocas cavadas no chão. Além
disso, o menino logo de Hesse corria de quatro com extrema habilidade, e
era capaz de saltar distâncias impressionantes para sua idade. Tratado
como uma curiosidade anormal por seus captores, o menino não sobreviveu
mais que uns poucos dias. Existem suposições que a morte do jovem tenha
se dado em função de uma dieta reforçada de alimentos cozidos.
O segundo menino de Hessie, como é conhecido, pode ser apenas uma
versão errada do primeiro menino, mas também é possível que se trate de
uma outra criança. Este nunca teria sido capturado por humanos, embora
houvesse tentativas infrutíferas de capturá-lo. Em alguns relatos, o
segundo menino teria mordido, arranhado seus captores e fugido para a
parte mais densa da floresta na companhia de uma alcatéia, para nunca
mais ser visto.
O menino lobo de Wetterau
O caso do menino Lobo de Wetterau ocorreu em 1344, durante um inverno
excepcionalmente frio. Nobres Caçadores que se embrenhavam nas
florestas de coníferas em busca dos lobos, descobriram um menino que
estava vivendo com uma alcatéia nas proximidades de uma fazenda chamada
Echtzel. Os nobres capturaram o menino, que foi levado de volta à
civilização. O menino viveu até os oito anos de idade. Especulou-se que
dada a proximidade e a pouca idade da criança, ele poderia ter sido
roubado da fazenda.
O menino lobo de Ardennes
Outro caso interessante de criança capturada por lobos foi relatado no livro “Schediasma de hominum inter ferus educatorum statu naturali solitario”, Publicado
em1730. Neste livro, Koenig, Henricus Conradus conta que uma criança
foi roubada por lobos e criada por eles. Quando descoberta, ela agia
como um animal selvagem e só comia carne crua. Criada por uma família e
alimentada gradualmente com outros alimentos, vivendo na presença de
outras crianças, seu comportamento bestial foi gradualmente sumindo e
ela inclusive aprendeu a falar.
O menino urso da Lituânia
Em 1661, numa floresta da Lituânia, um grupo de caçadores em busca de
peles encontrou um menino vivendo em meio a um grupo de ursos. Apesar
da forte resistência imposta pelo menino, que mordia, arranhava e se
debatia ferozmente, ele foi capturado. O menino urso foi levado para
Varsóvia, na Polônia e batizado como Joseph. Durante anos o menino
continuou a comer apenas carne crua e pastar na grama. Embora nunca
tenha deixado de rosnar, Joseph adquiriu um limitado vocabulário e
terminou sua vida como empregado de um nobre polonês.
O menino ovelha da Irlanda
No ano de 1672, um jovem de apenas 16 anos foi descoberto preso numa
armadilha nas montanhas da Irlanda do Sul. Desde que fugira da casa dos
pais quando criança, o jovem viveu com um rebanho de ovelhas selvagens.
Embora só comesse capim, ele era curiosamente saudável e também bastante
musculoso. Levado numa rede para a Holanda, ele foi entregue aos
cuidados do Dr. Nicholas Tulp, de Amsterdã. O menino nunca aprendeu a
fala humana e berrou como uma ovelha por toda sua vida.
A menina urso de Fraumark
Em 1767, dois caçadores capturaram uma jovem que os atacou depois que
eles atiraram num urso, durante uma caçada nas montanhas de Fraumark,
na Hungria. A jovem de 18 anos era alta e bastante musculosa. Segundo
indícios, ela estava vivendo com os ursos desde a infância. Mais tarde
ela foi internada num asilo em Karpfen, porque se recusava a usar roupas
e comer qualquer coisa que não fosse carne crua ou casca de árvore.
Dina Sanichar
O caso de Dina Sanichar é emblemático. Ele foi encontrado nas
florestas úmidas da Ìndia, vivendo com lobos selvagens e habitando uma
caverna em Buland-shahr. O Jovem foi levado para o orfanato de Sekandra,
próximo a Agra, onde recebeu o nome de Dina Sanichar. O menino nunca
conseguiu usar roupas e passava o dia afiando os dentes em um pedaço de
osso. Ele ficou 28 anos no orfanato, mas nunca falou. Em 1895, ele
morreu de tuberculose agravada pelo único hábito humano que aprendeu:
Fumar tabaco.
William Mildin, o rei dos macacos
Este caso carece de mais dados comprobatórios e muitos acreditam que
tenha sido o caso que inspirou a história de Tarzã. Nele, um jovem (que
investigadores do caso acreditam chamar-se William Russel) William
Mildin, que seria o 14 conde de Streatham. Ele era uma criança de 11
anos quando teria naufragado na costa oeste da África em 1868. Mildin
teria conseguido chegar a costa de alguma maneira e lá foi adotado por
uma família de macacos, onde viveu por 15 anos, até ser descoberto e
levado para a Inglaterra.
Amala e Kamala
Na faculdade de Psicologia, nós estudamos alguns desses casos, e um
dos mais interessantes pra mim foi o caso de Amala e Kamala, ocorrido no
ano de 1920. O caso das jovens, um dos mais fartamente documentados, é
relatado por um padre, o reverendo J.A.L. Singh, que capturou as duas
crianças, uma com 3 e outra com 5, que estavam vivendo em uma alcatéia.
Os lobos que as adotaram viviam nas florestas próximas a vila de
Midnapore, na Ìndia. Batizadas de Amala e Kamala, as duas meninas eram
mudas, só emitindo grunhidos e rosnados.
Elas andavam de quatro e só comiam carne crua. Após um ano na
civilização, Amala morreu. Kamala aprendeu a ficar em pé e adquiriu um
vocabulário limitado de 45 ou 50 palavras antes de finalmente morrer, em
1929.
Posteriormente, surgiram rumores de que a história de Amala e Kamala
seria uma fraude deliberada para tentar obter proventos e sustentar o
orfanato do padre. Fortes evidências surgiram que indicam isso, deixando
dúbioa a questão. Independente da questão fraudulenta da história,
muitas pesquisas sobre a linguagem e o desenvolvimento cognitivo usaram
Amala e Kamala para ilustrar pontos de vista, e por isso a história das
meninas é ensinada até os dias atuais. fonte
O menino Leopardo de Cachar
O menino leopardo de Cachar foi descoberto em 1938 por um esportista
inglês, que viu o jovem, de oito anos morando com uma fêmea de leopardo e
seus filhotes nas montanhas de Cachar, ao norte da Índia. O menino, que
fora levado pelo leopardo cinco anos antes, foi posteriormente
devolvido a sua família de origem que era composta de fazendeiros e
camponeses. Embora ele fosse quase cego, o jovem conseguiu identificar
indivíduos e objetos através de seu olfato extremamente desenvolvido.
Ramachandra – O menino anfíbio
Um caso bastante curioso de crianças-fera é o de Ramachandra, um
menino descoberto em 1973, vivendo na beira do rio Kuano, na
Índia.Embora tenha sido testemunhado em 1973, o menino anfíbio só foi
capturado em 1979. O jovem foi levado para um vilarejo próximo ao rio,
onde tentaram criá-lo como uma pessoa normal. Mas ele nunca andou de pé.
Pulava como um sapo e passava as horas contemplando a beira do rio. Não
aprendeu a falar e preferia comida crua. Ele também nunca usava as mãos
para pegar a comida. O menino anfíbio morreu em 1982, após se aproximar
de uma mulher indiana (especula-se) com o intuito de copular. A mulher
se assustou e vingou-se do menino anfíbio jogando água quente no corpo
dele.
Traian C?ld?rar
Em fevereiro de 2002, um pastor da Romênia, descobriu o jovem, morando
numa velha caixa de papelão em meio a floresta. Desnutrido, doente, com
feridas provocadas pelo intenso frio e nu, o jovem foi levado para um
orfanato a 110 milhas de Bucareste. Os médicos que o examinaram disseram
que ele não poderia viver sozinho naquelas condições e especularam que
ele vivia com uma matilha de cães. Trainan não sabia mais falar. Em
seguida, descobriram a mãe do jovem, Lina C?ld?rar que disse acreditar
que ele fugiu de casa devido aos maus tratos infligidos pelo pai
violento. Um tempo após voltar para casa, o jovem já se comunicava
oralmente e gradualmente avançou para um comportamento socialmente
aceitável. fonte
A menina das selvas
Uma jovem cambojana surgiu das selvas em janeiro de 2007.
Imediatamente após o aparecimento da “menina das selvas” uma família
reclamou seu parentesco, afirmando que se tratava de Rochom P’ngieng,
nascida em 1979. A jovem foi descoberta quando roubava comida de uma
fazenda. Não se sabe como ela foi parar na selva, e os parentes
acreditam que “maus espíritos” a roubaram da família. A jovem parecia
entender o que falavam com ela, pois obedecia ordens. Mas não falava e
não pegava nada que não dessem a ela diretamente.
Levada para casa, ela foi vestida e obrigada a se comportar como uma
pessoa civilizada. Logo, a menina apresentou sinais de depressão e numa
noite, livrou-se das roupas e fugiu de volta para a floresta.
Meses depois, ela foi recapturada e novamente conduzida para casa.
Depois de um longo período de adaptação a jovem começou a se afeiçoar
aos parentes, sobretudos as crianças pequenas, que ela abraça e beija
todo o tempo. È com os pequenos que a jovem se sente segura, pois sorri e
brinca contínuamente.
Oxana Malaya – A menina bicho
Oxana viveu a maior parte de sua vida na companhia de cães selvagens na Ucrânia.
Filha de pais mentalmente perturbados e alcoólatras, a menina foi
expulsa de casa com apenas três anos. Adotada por cães, ela passou a
viver com eles numa espécie de cabana que havia nas proximidades da sua
antiga casa.
Graças ao contato, a jovem desaprendeu tudo que sabia de hábitos
humanos e adquiriu comportamentos e maneirismos de cachorros. Ela late,
anda de quatro e se coça como um cão. Ela só sabe dizer “sim” e “não”. A
jovem adquiriu grandes habilidades como olfato apurado e audição
excepcional. Sem estímulos intelectuais e emocionais a mente da menina é
praticamente a mesma de um cachorro. Até 2006, com 23 anos, a jovem
vivia num lar para pessoas com problemas mentais.
Lyokha – Desaparecido
Encontrado em dezembro de 2007 numa floresta de Kalunga, na Rússia,
em companhia de uma família de lobos, o jovem russo foi conduzido a um
hospital, onde foi cuidado, teve suas enormes unhas cortadas e recebeu
banho e tratamento médico. O jovem agia como um lobo, mordendo e
grunhindo. Andava de quatro e não falava. Apenas grunhia. O caso dele foi publicado até aqui no blog.
O jovem Lyokha aproveitou-se de um descuido e conseguiu fugir do
prédio de volta para a floresta, onde nunca mais foi visto. Acredita-se
que ele ainda esteja em companhia da família de lobos. fonte
Natasha – O caso mais recente
O caso de Natasha aconteceu na cidade russa de Chita, em 2009.
Natasha é uma menina de apenas 5 anos que viveu trancada num cômodo, sem
praticamente nenhum contato com o ser humano. Ela ficava junto com
cães, gatos e sem nenhum tipo de aquecimento ou higiene. Quando foi
encontrada, a menina não sabia falar. Apenas latia e rosnava, pulando
nas pessoas em uma busca desesperada por atenção, como apenas os cães
fazem.
A jovem havia sido raptada do colo da mãe ainda bebê pelo próprio
pai, que a escondeu numa casa caindo aos pedaços, cheia de lixo e sem
nenhuma condição de habitação. O homem trancou a menina no cômodo e
chegou a lutar com a polícia, quando anos depois do sequestro, os
oficiais chegaram no cativeiro para resgatar a criança. O pai dela foi
preso, mas já está solto, aguardando julgamento.
fonte
O caso de Natasha lembra o de um outro famoso selvagem, Kaspar Hauser.
Misha Defonesca – A fraude
Esta jovem tinha apenas sete anos quando seus pais foram capturados
por nazistas. Escondida numa casa segura a jovem se manteve ilesa da
ação dos nazistas. Misha ficou na casa durante um longo tempo, até que
com medo de ser descoberta ela fugiu para a floresta, onde sobreviveu se
alimentando de frutinhas e comida roubada de fazendas. A Segunda Guerra
seguiu violenta, e a jovem andou por meses através das florestas,
cobrindo 4.800 km durante quatro anos de solidão, andando com medo da
guerra e em busca dos pais. Ocasionalmente, a jovem vivia com uma
alcatéia. Posteriormente, a jovem deu seu testemunho sobre a vida que
levava.
“Em minhas viagens, eu podia dormir profundamente na
companhia dos lobos. Os dias com minha família de feras
multiplicavam-se. Não tinha idéia de há quanto tempo estava com eles.
Achava que ia viver com os lobos para sempre e isso me parecia melhor
que voltar ao mundo humano. Hoje, as lembranças daqueles dias são
cinzentas. Foi uma experiência maravilhosa”
A história da menina virou um livro autobiográfico em 1997.
Posteriormente, a história foi convertida num filme, e tempos depois, os
editores e o autor confessaram que tudo não passou de uma fraude. fonte fonte
Embora existam algumas fraudes como a de Amala e Kamala, Misha
Defonesca e etc, o numero de seres humanos que adquirem comportamentos
selvagens em ambientes hostis, muitas vezes na companhia de animais
selvagens é expressivo. Pode parecer, aos olhos do leigo, que tudo é
fraude ou erros de interpretação de histórias do passado, ou ainda,
manipulações da imprensa marrom para vender jornal. Mas o fato é que o
ser humano demonstra uma impressionante adaptabilidade e estes casos de
crianças-fera mostra exatamente isso.
Para quem ficou curioso e gostaria de saber mais casos de pessoas assim,
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