quarta-feira, 13 de junho de 2018

EMPRESÁRIO PROPRIETÁRIO DA DIEXIM Bartolomeu Dias REVOLTADO COM RECUSA DO PRESIDENTE DE ANGOLA JOÃO LOURENÇO DE CRIAÇÃO DE NOVA COMPANHIA AÉREA PUBLICO PRIVADA

Proprietário da Diexim que entra no projecto Air Connection Express, chumbado publicamente por João Lourenço, é particularmente duro com as decisões do Presidente da República. Acusa-o de ter agido com “arrogância” e critica-o por não ter ouvido os empresários. Bartolomeu Dias alerta também para os milhares de emprego colocados em risco nos projectos na madeira e nos diamantes e defende a qualidade do projecto de criar uma empresa de aviação para voos nacionais e regionais.

 

Como analisa o posicionamento do Presidente da República em relação ao consórcio Air Connection Express?

 

Um Presidente da República, que quer criar emprego, não fala daquela forma, porque o surgimento de uma empresa é sempre bem-vinda para um país. O que o Presidente da República deve ter como preocupação é que a TAAG não pode voar para Catumbela com um avião 737. É prejuízo. O surgimento dessa companhia seria para substituir este esforço que a TAAG tem feito em manter os voos com prejuízo para honrar um compromisso de Estado, mais por questões políticas do que técnicas ou financeiras. Tecnicamente, não é viável ter um avião 737 a voar 30 minutos entre Luanda e Catumbela ou pouco mais de 20 minutos para Mbanza Congo. São muitos ciclos e o avião tem de estar quase permanentemente em manutenção. Por outro lado, se queremos proteger as empresas e o surgimento de novas, a figura que deve proteger estas empresas é o Presidente. Mas não é naquele tom em que deu a entrevista. Fiquei estupefacto ao ouvir um chefe de Estado como se fosse um inimigo do desenvolvimento. É perigoso.

 

 

Mas sabe da razão do Presidente para a decisão que tomou?

 

 

Não sou membro do Governo para saber, de facto, o que há, mas, como cidadão visado e com algum conhecimento sobre gestão e liderança, não estou a ver nenhum ministro a cometer o erro de rubricar um acordo com uma instituição internacional sem que o Presidente tivesse conhecimento. Não estou a ver o ministro Augusto Tomás, um indivíduo experimentado nas lides de governação, a cometer este erro. O surgimento desta companhia já existe desde o anterior Governo, foi aprovado em Conselho de Ministros e a TAAG não seria sócia maioritária, teria um volume de acções inferior ao conjunto dos privados. Agora, além da especulação, há aquele negativismo do negro porque nós, raça negra, enfatizamos tudo o que é negativo, não somos indivíduos positivistas para desenvolver o nosso continente e país. Queremos sempre destacar o erro dos outros por mais pequenos que sejam, esquecendo os aspectos positivos.

 

 

Não será uma decisão pela suposta incapacidade financeira dos privados que obrigaria o Estado a um grande esforço financeiro?

 

 

A TAAG é um sócio dentro do consórcio, não esteve arrolada para dar dinheiro aos outros sócios. Quem estava a fazer a mobilização de capitais eram os privados. O que mais me motivou a entrar no consórcio é a possibilidade de voar para a região. A TAAG deixaria de voar com os aviões 737, dedicar-se-ia ao longo curso e as viagens regionais ficariam para esta companhia. É um projecto viável, é o que mais me motivou porque, com a Diexim, não tinha a possibilidade de fazer voos regionais. Não havia nenhuma relação em que a TAAG seria o senhor com os custos altos para beneficiar um grupo de pessoas que, conforme dizem as más-línguas, estão falidas.

 

 

Mas pode ter sido esse o argumento que chegou ao Presidente ou não acredita nessa hipótese?

 

 

Se o Presidente pensou assim, está errado. O Presidente não pode avaliar as pessoas pelas conversas. Se for à entrada da Chibia, na Huíla, está lá a ser montada uma fábrica de mais de 20 milhões de dólares. Por detrás da Shoprite (Palanca, Luanda), estamos a montar uma fábrica de luvas. Se for ao lado da Unitel, em Talatona, há três prédios a serem erguidos pelo grupo. Se for a Viana, vai encontrar a fábrica de sacos. Para não citar coisas que estou a fazer fora do país. Como é que vão dizer que estas pessoas não têm capacidade? Mesmo os outros não pararam por falta de dinheiro. Se ligarem para o INAVIC e perguntarem se a Diexim tem ou não aviões a voar, vão dizer que tem, foram inspeccionar os meus aviões que estão na África do Sul porque continuam com a matrícula angolana. Não há incapacidade. Este é um país de meia pancada em que o Presidente vai falar das questões internas, num órgão de comunicação internacional o que tira credibilidade ao próprio país, porque quem assinou o acordo com a Bombardier são privados, mas com o consentimento das instituições do Estado.

 

 

Os privados estariam em condições de avançar, caso a TAAG e a ENANA se retirem do consórcio?

 

 

Porque não? A arrogância com que o Presidente abordou o tema parece ter alguma situação ou contra o seu ministro ou contra as pessoas que estão envolvidas no negócio. O que deveria dizer é que “vou avaliar a questão, veremos as vantagens económicas para a companhia de bandeira, é um processo antigo, iniciado no antigo Governo, mas vamos analisar os prós e contras”. Esta seria a posição de um líder e não desafiar o jornalista a ligar caso voe com a companhia. Governar um país não é como gerir a nossa casa, há interesses de cidadãos que o Presidente deve defender. Não está aí para agradar pessoas, mas para dirigir o país com a maior transparência, embora não seja prática em África, infelizmente.

 

 

Os accionistas, sobretudo os privados, já se reuniram para decidir os próximos passos?

 

 

Ainda não, mas teremos este encontro. É necessário analisarmos. Não recebemos nenhum documento oficial que nos notificasse sobre o fim da parceria no sentido de tomarmos o passo que podemos dar porque não estou a ver o Presidente a proibir o surgimento de uma empresa, isso é ilegal. Abusando do poder até pode, mas não deve.

 

 

Considerando os acordos já assinados, haverá prejuízos em caso de o projecto não avançar?

 

 

Não houve nenhum custo primário, não haverá prejuízo. Ou melhor, haverá um prejuízo, que é o bom nome de Angola que fica manchado e vai ser difícil reparar. Permanentemente, temos vendido uma imagem negativa da seriedade dos nossos governantes e este caso pode servir como mais uma prova de que o país não é sério.

 

 

Teve contacto com o ‘dossier’, encontra alguma razão, por mais simples que seja, que possa justificar a posição do Presidente?

 

 

Não posso passar um cartão de incompetência às pessoas envolvidas. O processo começou no anterior Governo. Fui convidado já no fim. Ninguém me forçou, analisei o estudo de viabilidade e achei interessante, tem alguma vantagem que eu não conseguiria ter com a Diexim, que são os voos transfronteiriços. Não iria fazer com a Diexim mesmo que comprasse novos aviões ou aumentasse a minha capacidade. Pelo estudo, vejo simplesmente vantagens. Estou a completar 31 anos como empresário e, se houvesse algo de errado, não entraria, não meteria o meu capital em risco só porque quero ser sócio da TAAG, haveria vantagem para todos. Por outro lado, é contraditório o próprio Presidente que fala em PPP estar contra um projecto destes. Não consigo perceber a posição do Presidente.

 

 

 

Disse que esta posição vai contra o seu objectivo ou promessa de criar 500 mil empregos. Mas concorda, certamente, que este é apenas um dos muitos projectos possíveis?

 

 

Se ler o estudo, vai ver que os seis aviões criariam muitos postos de trabalho. Depois, como é que o Presidente vai atingir os empregos que prometeu se encerrou o corte da madeira e anulou a emissão de licença para a exploração de diamantes? Desde que entrou, o Presidente só está a colocar travões no desenvolvimento, não fez nenhum gesto que desse sinal de impulso à economia. Mesmo quem quer organizar não pára tudo. Quando eu quero organizar a minha empresa, não fecho. Reestruturei as minhas empresas, por isso estão todas ali mesmo com a crise total, mas não foi necessário fechar.

 

 

Mas não concorda que havia muita desordem e o Estado pouco ou nada ganhava?

 

 

Não pode ser verdade. Se há algum descontrolo pela forma como é feita a exploração da madeira ou com o processamento dos diamantes pode fazer-se de forma diferente. Criam-se mecanismos de produção, de comercialização e, por último, de controlo. É necessário incentivar as três fases.

 

 

Não exagera quando diz que o Presidente ainda não deu sinal de impulso à economia quando já alterou a lei do investimento privado e agora esteve na Europa numa clara iniciativa de diplomacia economia?

 

 

Não há país nenhum que se desenvolva sozinho, também não há país que se desenvolva dependente apenas de estrangeiros. Aliás, o comportamento dos estrangeiros, e do europeu em particular, é ver o negro africano sem capacidade para se desenvolver, devido à ausência de política dos Estados africanos. A primeira questão que temos de ter é encontrar mecanismos para fortificar o sector empresarial nacional, foi sempre a minha luta, é o que sempre defendi e defendo. Não é possível, em Angola, termos construído acima de cinco mil quilómetros de estradas e não ter resultado num encaixe financeiro suficientemente bom para os empresários angolanos porque sempre se deu primazia aos estrangeiros. Quando houve a crise, estes estrangeiros foram-se embora, ficaram os nacionais, que o Governo, de uma ou de outra forma, enfraqueceu, que não conseguem cobrir a balança de pagamento com receitas tributárias. Não considero que as visitas de Estado sejam um sinal bom para a economia, é bom para o futuro, mas as empresas e a economia não esperam. É preciso fazer um programa de curto, médio e longo prazos. Estas visitas são uma estratégia para médio e longo prazos, mas precisamos de programas que tirem a economia da crise em que se encontra e só é possível com os empresários nacionais. Não é proibindo a extracção disto e daquilo pelos pequenos empresários nacionais. Ainda não vi sinais. Acredito no que vejo e não no que ouço. O que ouço é que há bons sinais, mas o que estou a ver é diferente.

 

 

Mas o Presidente só tem ainda oito meses…

 

 

Nas questões económicas, não se espera por anos. Se o antigo Governo fazia algumas coisas erradas, quem vai substituir deve ter linhas definidas de como vai corrigir os erros. Estamos a falar de políticas económicas, da economia real e não de políticas partidárias. Não é falar bonito que vai desenvolver o país, faz-se trabalhando, definindo regras e estratégias para determinados sectores. O maior problema da nossa economia é a falta de estratégia e nós temos várias soluções. A solução não passa pelo endividamento. Temos outras formas de moldar uma estrutura, não digo de carácter definitivo, porque a economia é dinâmica, mas podemos normalizar os efeitos que abalam a economia de três em três anos.

 

 

Perdeu a esperança que, no início, depositou neste Governo e no Presidente, em particular?

 

 

Não sou de fazer leituras de curta distância. Os erros são passíveis de ser cometidos por quem trabalha e lidera. É um erro do Presidente, espero que faça uma leitura das várias opiniões da sociedade, porque há prós e contras, para se posicionar. E se decidir passos que sirvam a sociedade, estaremos com ele.

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