segunda-feira, 7 de março de 2022

Refugiados angolanos na Polónia recusam voltar a Angola por instabilidade

Refugiados Angolanos na Ucrânia 


O Governo angolano enviou um avião para a Polónia para trazer de volta 277 angolanos em fuga do conflito na Ucrânia. O grupo queixa-se de falta de apoio das autoridades angolanas. Apenas 30 aceitaram embarcar.

"No âmbito da efetivação do plano de
contingência" para retirar cidadãos angolanos que deixaram a Ucrânia e se refugiaram na Polónia, desde o início do conflito com a Rússia, o Governo de Angola, através da missão diplomática no território polaco, "criou condições de receção de todos os cidadãos angolanos atingidos pelo conflito, tendo até 05 de março chegado a Varsóvia 277 cidadãos", refere um comunicado emitido pelo Ministério das Relações Exteriores angolano divulgado este domingo (06.03).

"Em função disto, o Executivo angolano mobilizou um meio aéreo -- um Boeing Triple Seven - para trazer para Angola a totalidade dos referidos cidadãos, incluindo os cônjuges nacionais e estrangeiros", precisou a nota. Porém, acrescentou o ministério: "Dos 277 cidadãos acolhidos em Varsóvia, apenas 30 aceitaram embarcar para Angola, tendo os restantes decidido permanecer em solo polaco por sua conta e risco, o que exonera o Estado angolano de responsabilidades sobre estes cidadãos, exceto apoio consular possível". 

Num vídeo a circular nas redes sociais, os angolanos que ficaram na Polónia alegam que não tiveram apoio necessário para recomeçar a vida. "Será que é possível alguém recomeçar com 16 dólares?", questionam. "Muitas pessoas aqui perderam casas, carros, empresas, empregos. Não vamos voltar a Angola com 16 dólares na mão. 13 mil euros para mais de 200 pessoas? Vamos fazer o quê? Nada", criticam.

Segundo o WebtvAngolana, os 30 angolanos que aceitaram a evacuação chegaram esta madrugada ao Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, onde foram recebidos por uma delegação do Governo composta pelo ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, Francisco Furtado e os ministros das Relações Exteriores, Téte António, a ministra da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Faustina Alves, bem como por equipas de apoio. 

Faustina Alves, citada pelo webtvangolana, assegurou que estão criadas as condições para acolher estes cidadãos, desde a hospedagem, à assistência médica e alimentar. A ministra lamentou o comportamento da maioria dos angolanos que fugiu da Ucrânia e preferiu não regressar ao país.

Perante a recusa do grupo, e "no âmbito da vocação panafricanista da República de Angola, o Governo [angolano] aceitou transportar no mesmo avião cidadãos de outros países" do continente africano, numa altura em que o número de pessoas em fuga da guerra na Ucrânia já chegou aos 1,5 milhões.

Só na Polónia, o número de pessoas procedentes da Ucrânia ultrapassou, ao fim da tarde de domingo, um milhão, segundo a guarda-fronteiriça polaca. Segundo a ONU, esta crise de refugiados é a "de crescimento mais rápido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial".

Também o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau informou que conseguiu evacuar nas últimas horas seis dos nove cidadãos guineenses para a Polónia, Varsóvia e um conseguiu boleia dos angolanos para Luanda.

No terreno, a situação continua tensa. As forças russas intensificaram este domingo os bombardeamentos de cidades do centro, norte e sul da Ucrânia, informa o conselheiro presidencial ucraniano Oleksiy Arestovich: "É uma catástrofe. Não sei que tipo de mísseis laçaram esta noite. É uma tragédia total".